domingo, 11 de janeiro de 2009

Todas as noites eu arrumo sua cama, abro as janelas de seu quarto abafado. Beijo seu rosto, desejo boa noite, tenha bons sonhos e vou me deitar em lençóis já desarrumados, a cortina de vez em quando subindo como a imagem de uma televisão com defeito em minha visão cansada. Todas as noites faço preces para que você vá trabalhar e retorne ao meio-dia, e ao fim da tarde. Programo minha vida para encaixar sua falta de vontade. Por quase dois anos tenho [sobre]vivido por você, aberto os olhos por você, agüentado por você. Venho tentando fazer você rir para não começarmos os dois a chorar, embora eu tenha esquecido como é sorrir sem fazer os lábios tremerem. Por vezes - e muitas delas - calei meus argumentos para evitar discussões. Você e sua cabeça dura. Eu e meu amor por você. Sacrifiquei tantos anseios, mas não me queixo, não me arrependo, fiz por vontade própria, fiz por você, para manter você por perto, conversando, evitando seu isolamento naquela poltrona quente no terceiro andar.
É quando me vem a oportunidade de vê-lo. Lembra dele? Faça um esforço. Quando me vem a oportunidade de rever aqueles olhos lindos, por dois dias apenas meus, ouvir aquela voz cantada da cidade de onde a nossa menina veio, eu te peço pela primeira vez em toda a minha vida resumida a você, tenho dores de estômago, a ponta do meu nariz em movimentos involuntários, o suor gelado em minha testa...



[...]




e você me diz não.